Algumas considerações a respeito da Compostura e como a Estabilidade tem me ensinado a desenvolver um caráter mais firme

A palavra “Energia”, num contexto de desenvolvimento pessoal, geralmente nos remete a um ambiente mais “new age”. Há algumas pessoas amadas em meu círculo de amizade que fazem trabalhos maravilhosos e eficientes nessa área, mas não é esse o meu objetivo aqui. Pelo menos não de maneira consciente. A minha intenção com este blog é compartilhar a minha própria jornada de aprendizado com você, preferindo para tanto usar a escrita, a conversação e a música como veículos da palavra e sabendo que esta é criadora, atingindo os seus propósitos pelos meios que melhor lhe convêm.

Nós, como seres que atuam nesse mundo nas mais variadas formas, somos dotados de capacidades peculiares, “jeitos de ser”, que impregnam o que quer que façamos com a nossa energia única e individual. Chamarei também a essas energias “disposições” para ações.

A partir do estado natural de simplesmente estarmos presentes no momento, há quatro disposições gerais para ações, através das quais atuamos no mundo.

  • Openess (Abertura, receptividade);
  • Flexibility (Flexibilidade);
  • Resolution (Resolução) e
  • Stability (Estabilidade).

Eu poderia falar a respeito de cada uma dessas disposições separadamente, sobre o leque de possibilidades que cada uma delas abre para as nossas ações no mundo, sobre como se harmonizam entre si e se manifestam em nossa maneira de estar em nosso corpo, de nos movimentarmos, pensarmos, agirmos, falarmos, de sermos enfim, mas o meu propósito neste momento é apresentá-las assim mesmo, de maneira rápida, apenas como introdução a esse post que se propõe a falar com mais detalhe apenas a respeito da “estabilidade” e do que tenho aprendido com ela.

Exponho esse pensamento sentada em minha cadeira, bem vestida, coluna ereta, olhando a linha do horizonte pela janela, de vez em quando. Casa arrumada, compromissos agendados, tudo está em ordem e preparado para que o dia transcorra da maneira mais segura e harmoniosa quanto possível. Se algum imprevisto porventura vier a ocorrer, posso me valer da flexibilidade, que é o meu modo de ser mais imediato, e ao qual eu me entrego confortavelmente, especialmente sob a perspectiva de que a vida é uma sequência de flagrantes e imprevistos que carregam o maravilhoso potencial de nos atualizarem para a realidade. Mas deixemos essas divagações de lado e concentremo-nos nas lições que queremos aprender hoje.

1 - A “estabilidade” é uma disposição para a ação comumente benéfica aos príncipes, aos reis, ou a quaisquer pessoas que desempenhem funções de liderança, seja no campo material ou espiritual. Quem age a partir dela não é facilmente abalado por ventos e intempéries, já que as suas longas raízes mantêm-no em seu próprio lugar.

2 - O caráter estável empresta ao seu agente a qualidade da “soberania”, qual seja, a consciência sobre os limites do seu território, bem como o domínio sobre este.

3 - O soberano é altaneiro, vê o seu campo de ação de cima e não se deixa capturar pelas engrenagens dos mecanismos que movem a sua empresa.

4 - Servem-se bem dessa energia os líderes, as mães, donas de casa, professores, administradores, bem como todo aquele que desempenhe função de liderança.

5 - Em nosso corpo a disposição estável manifesta-se com maior destaque em nossas pernas firmes, um pouco espaçadas, na coluna ereta, corpo alongado, cabeça altiva e olhar amplo, que alcança o horizonte, ao passo em que se mantém também consciente de sua visão periférica. 

6 - Um bom exercício de invocação dessa disposição de caráter é mantermos o corpo conforme esta descrição, enquanto nos imaginamos como uma árvore, cujas raízes longas nos mantêm firmes em nosso lugar e cujos galhos frondosos espalham-se por toda a dimensão do nosso território. Você pode também mover-se a partir dessa energia. Em termos mais abstratos, mantenha-se centrado e tente imaginar cada passo como o avanço de uma conquista suave, porém sólida e poderosa. Procure manter-se concentrado nas partes inferiores de seu corpo, tais como pernas e pés. Se quiser introduzir a voz em seu exercício, experimente abrir a boca e falar livremente o que lhe vier à cabeça. Neste caso, você obterá um resultado mais eficiente se introduzi-la depois de ter praticado o exercício por pelo menos 5 minutos. É possível que essa prática lhe surpreenda com a descoberta de uma nova profundidade vocal.

7 - Qualquer um que queira beneficiar-se dessa disposição, seja em função de um desafio circunstancial, ou de uma atividade permanente que exerça na vida, poderá adotar práticas que a desenvolvam, tornando-a predominante ou de fácil acesso.

Circunstâncias novas em minha vida, tais como a mudança de cidade e o crescimento de minha filha têm me colocado em um lugar existencial favorável ao natural desenvolvimento dessa disposição em mim. O que tenho aprendido com ela?

Autenticidade – A primeira coisa para a qual fui chamada a fazer pela “estabilidade” foi me definir como pessoa no mundo. Conhecer os limites do meu território e das minhas competências tem operado para que eu venha desenvolvendo o meu caráter com mais autenticidade. A mesma autenticidade que eu já conhecia anteriormente, advinda de meu jeito de ser aberto e flexível, só que agora com uma dimensão mais profunda, que finca raízes, impõe limites e ocupa o seu próprio lugar no espaço-tempo. Quando primeiro ouvi falar a respeito das diferentes energias pelas quais operamos, senti que a Estabilidade me seria praticamente impossível. É que eu achava até então, que para desenvolver um caráter estável eu deveria forjar um jeito de ser rígido, maquiado, em desconexão com o meu ser infinito e com a fluência da vida. No entanto, não é isso que tenho observado. Estabilidade, a partir de uma perspectiva ecológica, é justamente o que tem aberto espaço para o nascimento em mim de uma independente, porém interconectada individualidade.

Uma última consideração neste ponto é a seguinte: Agindo a partir de Estabilidade tende-se a ser mais proativo, ao invés de reativo em interações e relacionamentos, o que abre portas para novas possibilidades, na medida em que se quebram antigos vícios coletivos de pensamentos e emoções.

Liberdade – Estabilidade abre espaço para o nascimento da liberdade em mim e no próximo, na medida em que me permite reconhecer e respeitar cada expressão de um outro ser humano. Isto acontece porque a serenidade advinda da segurança de saber quem eu sou dá ao meu próximo a liberdade de ser ele mesmo também. O ser sereno ao invés de se deixar levar pelos ventos da antipatia que repele e da simpatia que seduz, passa pelos ambientes num nível acima desses abalos emocionais, dando assim espaço para que a verdade do outro se manifeste. Essa atitude é, ao meu ver, um nobre convite a que outro ser humano nos encontre na dimensão do “Eu Superior” ou do bem comum. A maestria nessa habilidade proporcionará ao seu possuidor uma tranquila posição de observação de si próprio, do mundo e da vida, sem que para isso ele precise viver retirado em um mosteiro. Podemos assim dizer que essa disposição de caráter é a vestimenta mais apropriada para pessoas espirituais que tenham que trabalhar fora dos seus “mosteiros”, lidando com pessoas muito diferentes e nos mais variados ambientes do mundo.

Discrição – A estabilidade tem me ensinado a ser discreta. Saber das minhas raízes, da qualidade dos meus galhos e folhas, sentir a força do meu tronco, ter consciência da singularidade do meu ser enfim, só pode me conduzir a ser discreta.

Discrição é o estado de propriedade do ser em si. É também justeza, discernimento, liberdade de decisão quanto ao cabimento de cada coisa e aplicação da vontade. Dentre as formas de comunicação é a mais suave e a que mais aproxima do silêncio.

Quanto à vestimenta, a discrição nos leva a nos adequarmo a cada ambiente, de modo a sentirmo-nos confortáveis para que o nosso ser se manifeste e se estabilize. Apesar de discreto, o caráter estável normalmente veste-se com elegância e distinção, o que empresta à sua presença o toque único de sua individualidade.

Compostura – Eu tenho entendido a compostura como a face mais grave da elegância, ou a garantia de um mínimo essencial na presença.

Vale ressaltar, a meu ver, que a compostura tem sempre em vista um contexto, fato que eu concluo da origem latina da palavra "compositura", ou "composição", que pressupõem o arranjo de várias partes num todo harmonioso, que só se dá a conhecer ao observador que tenha alguma pespectiva da obra em execução.

Ainda, a compostura é o estado que mantém o ser dentro de seus próprios limites, impedindo assim que extrapole da verdade ao forjamento, da sobriedade ao exagero, ou da dignidade à soberba.

Por fim, vale a pena considerar a compostura como a harmonia que rege basicamente a presença, garantindo ao homem o domínio de si e lhe proporcionando a paz necessária à sua eficaz e bem-sucedida atuação no mundo.